Recentemente, nós do Coletivo Conversa realizamos um debate sobre fake news e conversamos com especialistas sobre o impacto que essas notícias falsas têm na comunicação. Números sempre ajudam a entender determinado fenômeno. De acordo com estudo feito pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no Brasil.
Estamos em um ano de eleições, há poucos meses do início oficial da propaganda eleitoral, mas já é visível o aumento da circulação de informações falsas nessa área. Sites de origem duvidosa e contas automatizadas nas redes sociais se proliferam para divulgar notícias com grande apelo, porém inverídicas, sempre para favorecer ou denegrir político A ou B. E funciona. O estudo “Estudo Robôs, Redes Sociais e Política no Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), constatou que as contas automatizadas no Twitter (aqueles perfis falsos) motivam até 20% de debates em apoio a políticos.
Em tempo de polarização acirrada e de um cenário em que a imprensa tem lutado para conseguir exercer sua influência sempre em declínio, como as notícias falsas podem impactar no jornalismo ou podem ser combatidas por ele?
Lilian Tahan, diretora do Metrópoles, e uma das nossas convidadas para o evento, colocou que os veículos tradicionais de mídia são o antídoto para as notícias falsas. O jornalismo sério pode (e deve) combater a proliferação das fake news com a exposição dos boatos. Se determinada notícia viral não é verdade, os veículos de comunicação são fundamentais para esclarecer a verdade.
Checagem “everywhere”
Quem trabalha com jornalismo sabe que, para produzir uma notícia, existem etapas que devem ser respeitadas. Hoje, uma das mais importantes é a checagem das fontes. Em uma rotina completamente modificada pelo digital, os jornalistas encontram novas formas de pesquisar, apurar, entrevistar e checar as informações que possuem para escrever uma notícia. A checagem nunca foi tão necessária.
Com a proliferação das fake news no ambiente digital, surgem agências de checagem de fatos (fact-checking), que trabalham com o confrontamento de histórias com dados, pesquisas e registros. No Brasil, as principais são a Agência Lupa, o projeto Truco (da agência Pública) e Aos Fatos. Essas agências têm o papel importante de legitimar as informações com uma apuração jornalística criteriosa. Ainda são poucas iniciativas no Brasil, mas seria um novo mercado para os profissionais do jornalismo?
Credibilidade x influência dos pares
Na era da pós-verdade, onde as informações circulam por múltiplos canais e não possuem compromisso com a verdade dos fatos, a indústria das fake news cresce e lucra aproveitando o fenômeno do empoderamento dos pares. Ou seja, hoje ocorre uma inversão da influência, em que se acredita mais no que o meu igual (ou alguém que pensa igual a mim) diz do que instituições como o governo e a imprensa.
Eis aí um desafio grande para os veículos de comunicação e também uma boa oportunidade de recuperar essa credibilidade ao investir neste papel de legitimadores dos fatos. Para isso, é preciso investimento nas práticas jornalísticas, na checagem de informações (criação de departamentos específicos) e na promoção de um debate público que conscientize a população sobre a importância de questionar antes de compartilhar.
Descubra: Como combater as fake news?
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