Estudo da Universidade de Oxford aponta para fatores que vão além dos individuais, como os níveis de liberdade de imprensa em cada país.
A pandemia chegou e, com ela, o excesso de informações que circulam em veículos de comunicação, em redes sociais e em grupos do Whatsapp. Vivemos em um mundo impactado por pautas monotemáticas que adicionam mais ansiedade ao momento. E esse caos informacional tem feito com que mais pessoas decidam consumir menos notícias (e quem pode julgar, não é mesmo?).
Um paper produzido por Benjamin Toff e Antonis Kalogeropoulos, da Universidade de Oxford, joga luz sobre essa questão. O artigo avalia, sistematicamente, os fatores que predizem os comportamentos de “prevenção” de notícias, considerando as explicações individuais e também nacionais. Eles entrevistaram mais de 67 mil pessoas em 35 países.
Segundo os estudiosos, em um mundo onde somos impactados por notícias de forma passiva em nossos feeds, evitar o consumo descuidado é crucial para ser uma pessoa bem informada. Eles revelam ainda que a “cultura de consumo de notícias” em cada país influencia comportamentos além dos fatores pessoais.
Pessoas em nações mais livres consomem mais notícias
No quadro abaixo, é possível ver um comparativo entre países. Em nações mais desenvolvidas, como Japão e Dinamarca, as pessoas evitam menos as notícias do que em países como Grécia e Turquia.
Pessoas mais livres tendem a evitar menos as notícias – talvez porque achem que podem ter mais chance de influenciar a direção política do país. “O estudo constatou que, em países com níveis mais altos de liberdade de imprensa, liberdade política e estabilidade governamental, as pessoas tendem a estar mais dispostas a se envolver com as notícias. Países onde emissoras ou jornais públicos são mais proeminentes no ambiente da mídia também tendem a evitar menos notícias, mas apenas em níveis limítrofes de significância estatística”.
Em nível nacional, “o evitamento de notícias serve como uma espécie de sistema imunológico político. Se seu país é menos livre – se as opções de notícias que você tem disponíveis são limitadas, dominadas pelo estado ou não refletem a realidade –, evitar notícias é como os anticorpos que seu corpo envia para expulsar um agressor e manter um equilíbrio de saúde. É uma defesa”.
Fatores individuais
O estudo mostra que, no nível individual, evitar notícias serve como expressão de características individuais e diz muito sobre você e suas preferências.
Os gráficos a seguir revelam alguns dados interessantes. Quando o fator é Educação, não há muita diferença se a escolaridade é baixa ou alta. Mulheres evitam notícias mais do que os homens, assim como jovens em relação aos mais idosos. Quando o fator é ideologia política, as pessoas de esquerda tendem a resistir mais à enxurrada de notícias do que as de direita.
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Vale reforçar que evitar notícias não significa que as pessoas estão escolhendo “emburrecer” ou viver em uma bolha, mas sim que, em muitos casos, estão optando por filtrar as informações que consomem. Afinal, em tempos como o que vivemos hoje, o consumo de notícias focado na qualidade, e não na quantidade, pode fazer diferença na forma como enfrentamos o momento.
Kadydja Albuquerque é jornalista e sócia do Conversa.