A realidade do jornalismo já não é mais a mesma desde o início da pandemia. As redações mudaram completamente. Elas passaram a contar com medidas de segurança severas e um número reduzido de profissionais trabalhando de forma presencial. São inúmeras as transformações que marcam o país até hoje. Enquanto alguns jornalistas precisaram se expor e conviver com o medo de contaminação, possíveis sequelas e morte pela doença, outros tiveram que enfrentar os dilemas gerados pelo home office e isolamento social.
Além das mudanças impostas pela pandemia da covid-19, profissionais de imprensa encontraram, nesse período, um ambiente hostil para o exercício da profissão. Segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, até o fim de janeiro deste ano, 94 profissionais de imprensa morreram da doença. Conversei com três colegas jornalistas para tentar entender os impactos desse marco histórico na nossa profissão, no nosso ofício.
Kenzô Machida, apresentador da CNN Brasil, cobre os bastidores da política em Brasília e diz que viu a relação jornalista-fonte passar por um grande desafio durante a pandemia. Bastidores, informações e pautas eram passadas durante um café com a fonte. Existia até uma leitura gestual no contato. Com o isolamento, os contatos precisaram ser mais frios, digitalizados, pelo WhatsApp. Um desafio de confiança, inclusive. O termômetro num café, num bate-papo ou numa ligação é diferente. Foi preciso lidar com um novo tipo de apuração.
Brunno Melo é âncora da CBN Brasília e viu a sua rotina mudar totalmente já em março de 2020. Com o trabalho remoto, o escritório virou estúdio e todo o trabalho precisou se adaptar. Coisas “simples” como a conexão de internet se mostraram um grande desafio para uma equipe que agora trabalha totalmente a distância. Brunno também foi um grande destaque na campanha de vacinação no Distrito Federal. Corrigindo a comunicação falha do governo local, o apresentador viralizou constantemente com notícias sobre onde se vacinar, como e quem deveria ir. Um trabalho que lhe rendeu um crescimento e engajamento exponenciais nas suas redes sociais.
Graziella Valenti é editora da Exame IN e conta que viu sua vida profissional e pessoal se unirem logo no início da pandemia. Rotina com os filhos, entrevistas, mercado, reunião de pauta, afazeres domésticos… tudo se misturou de uma forma que demorou um tempo para que ela se acostumasse. Graziella é uma entusiasta do trabalho remoto, mas sem perder de vista a importância da troca coletiva do presencial. Para ela, há experiências que você só pode ter com o olho no olho e que são essenciais no jornalismo. Um jornalismo com o qual ela se preocupa em termos de agilidade. Atualmente, existem métricas de alcance que podem engolir o trabalho de aprofundamento da reportagem. Para Graziella, um ponto de atenção desse período é dosar o hard news com o jornalismo mais aprofundado.
Leia também: Confira dicas para falar bem em uma entrevista com a imprensa
Bruno Aguiar é jornalista, sócio do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada