O estudo global EDELMAN TRUST BAROMETER 2018, realizado por uma das maiores agências de relações públicas do mundo, aponta que, pela primeira vez, a Mídia (que engloba produtores de conteúdo e plataformas) é a instituição menos confiável globalmente.
“Em 22 dos 28 países, ela (a mídia) se encontra no território da desconfiança. O Brasil (43%) está entre as nações que registraram as maiores quedas, ao lado da Índia (61%) e dos Estados Unidos (42%) – a confiança na Mídia nas três sociedades caiu 5 pontos”, aponta a pesquisa.
As fake news são fundamentais para entender essa queda. Com o aumento da produção e disseminação das notícias falsas, a instituição Mídia sofreu a perda de confiança em nível global, mas as outras instituições pesquisadas também sentiram o impacto (Governo, empresas e ONGS).
A pesquisa da Edelman traz dados interessantes sobre a relação dos brasileiros com as fake news e também sobre a confiança deles nestas instituições: 58% dos brasileiros não sabem diferenciar o que é verdade do que é mentira; 67% das pessoas comuns não sabem distinguir o bom jornalismo de boatos ou mentiras; 68% não sabem em quais políticos confiar e 48% não sabem em quais companhias ou marcas confiar; 75% têm medo que as fake news sejam usadas como armas.
Alguns outros dados interessantes da pesquisa:
- Quando perguntados sobre o que eles entendiam por mídia, os brasileiros definiram como tudo que envolve conteúdos e também plataformas (veículos, marcas, redes sociais, buscas, curadores e influenciadores);
- 74% dos entrevistados acreditam que os veículos de imprensa estão mais preocupados em atrair uma grande audiência do que em noticiar;
- 71% dos entrevistados apontaram que os veículos sacrificam a exatidão para serem os primeiros a dar uma notícia;
- 67% acreditam que os veículos apoiam uma ideologia ao invés de informarem o público;
- 64% afirmam que está ficando difícil saber se uma matéria foi produzida por um veículo de imprensa respeitado;
- Global: 65% recebem notícias por meio de plataformas como feeds de mídias sociais, buscas ou aplicativos de notícia. No Brasil, a confiança nas plataformas caiu 5 pontos. A maior queda foi nos EUA (11 pontos);
- Uma pessoa comum ainda é eleita pelos entrevistados como a pessoa mais confiável como porta-voz (70%). Ou seja, as pessoas ainda continuam acreditando e sendo influenciadas por seus pares. O porta-voz menos confiável, na visão dos brasileiros, é a autoridade de governo (28%).
Diante desses dados, a pesquisa aponta que as duas instituições que andam sofrendo mais com a descrença das pessoas são o Governo, que despencou 6 pontos, chegando aos 18%, e a Mídia, que perdeu 5 pontos, agora com 43%. Segundo o Trust Barometer, 81% dos brasileiros acreditam que o Governo é a instituição mais corrompida das quatro pesquisadas (além de mídia, as pessoas votaram sobre a confiança em empresas e ONGs).
Porém, a descrença caminha ao lado da expectativa. Os brasileiros esperam que estas instituições dialoguem com seus públicos de forma transparente. E isso é uma bela dica para nós, comunicadores, que estamos diariamente pensando como transmitir informações que provoquem engajamento em nossos públicos-alvo. A produção de conteúdo nos diversos canais de comunicação da empresa é uma ação estratégica fundamental para conseguir colocar essa transparência em prática e entregar conhecimento para os públicos da empresa sem insistir apenas na venda de serviços e/ou produtos. Não esqueçam o que diz a pesquisa: a queda de confiança na instituição Mídia também recai sobre as empresas, já que os entrevistados entendem “marcas” e “redes sociais” como parte desse grupo. No estudo completo, inclusive, é possível ver os dados também sobre a instituição Empresas.
“A confiança só será recuperada quando a verdade voltar para o centro do palco. As instituições devem atender ao apelo do público para fornecer informações precisas e oportunas e se juntarem ao debate público”, conclui Richard Edelman, presidente e CEO global da Edelman.
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Kadydja Albuquerque é especialista em Gestão da Comunicação nas Organizações e sócia do Conversa Coletivo de Comunicação Criativa.