No início do mês, o Governo Federal causou polêmica ao retirar dos critérios do edital para produção de livros didáticos a proibição de que haja erros de revisão nessas publicações, dando margem para que tais incorreções sejam toleradas (entre outras providências igualmente controversas).
O Governo recuou na medida, mas a discussão permanece. Afinal, é grave a publicação de materiais com erros?
A impressão de material didático com erros de revisão é algo sensível. No meio editorial, é sabido ser virtualmente impossível que – do ponto de vista do texto – uma obra esteja impecável quando publicada, mas uma vírgula mal empregada ou uma palavra errada causa menos dor de cabeça em um livro de literatura do que em um dedicado à formação de jovens estudantes.
No tocante à revisão de materiais gráficos para uma empresa ou negócio, o problema não é menos grave. Erros de português são a primeira pista quando se desconfia de placas de carro clonadas ou ataques de phishing. Eles são também um dos sintomas na identificação de fake news. Conhecer a variedade culta da língua escrita ajuda, portanto, na identificação de fraudes e informações falsas.
É sintomático de nossa realidade que algo aparentemente simples seja tão relevante para proteger alguém de informação falsa, roubo de dados ou tentativas de fraude. Por isso mesmo é tão desconcertante que erros banais sejam os causadores de tantas dores de cabeça.
O trabalho de revisão de textos deve ser invisível: quanto menos estranhamento o texto causar ao leitor e quanto mais adequado ele estiver à mensagem, melhor. Isso significa dizer que, em contextos mais casuais – como propagandas e textos para blogs – algumas variações são mais aceitas. Textos mais formais, como um despacho, uma notícia ou um contrato, precisam de um cuidado maior e uma adequação mais rígida à língua padrão.
Mas é importante lembrar que em nenhum desses cenários, formais ou informais, um erro grosseiro passaria despercebido. Prezar por um texto claro e revisado destinado aos clientes demonstra profissionalismo por parte da empresa e cuidado com os seus leitores. A revisão deve ter a mesma importância que damos a outros aspectos visuais da marca. A forma como sua empresa se comunica com clientes e potenciais clientes é um espelho das relações que ela quer formar com eles. E a revisão de textos não pode ficar de fora.
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Anna Guedes atua há dez anos na revisão e preparação de textos. Formada pela Universidade de Brasília, tem experiência na área de medicina e saúde, ficção, não ficção, publicidade e propaganda, textos acadêmicos e é revisora do Coletivo Conversa.
