“Para o revisor, o importante não é o que ele sabe, mas o que ele está consciente de não saber ou, pelo menos, não saber totalmente, e que por isso exige permanente verificação. […] O revisor não lê como todos os demais homens leem […]. O exercício da profissão do revisor pode ser descrito, perfeitamente, como uma ‘leitura angustiada‘. O seu trabalho é, justamente, evitar que todos os outros seres humanos necessitem fazer essa leitura.” (Sophie Brissaud, grifos nossos)
Algumas questões sempre são levantadas quando se fala em revisão de textos – ou na velha piada do “te corrijo mentalmente”.
Já abordamos por aqui a importância da revisão para empresas, mas talvez seja hora de falarmos brevemente quem, afinal, é o revisor e qual o seu papel em uma agência de Comunicação.
Mas você sabe tudo de cabeça?
O revisor é, antes de tudo, um profissional de ferramentas. Ele é um pesquisador. Tais ferramentas englobam desde dicionários e gramáticas até corpus de língua e dicionários especializados em um tema ou matéria específico. Então, não, o revisor não “sabe tudo de gramática”.
Como é feita a revisão de textos?
O trabalho de revisão é por vezes subdividido em etapas, que podem ser realizadas pelo mesmo profissional ou por pessoas diferentes, a depender do tamanho do material ou da empresa. Editoras de livros, por exemplo, têm um revisor específico para bater as emendas (revisões pedidas já no arquivo fechado e diagramado, feitas pelo diagramador e que voltam para o revisor para conferência) ou fazer a revisão de provas (diretamente nas lâminas que voltam da gráfica), trabalho que geralmente é feito pelo mesmo profissional em uma agência de comunicação ou para um cliente único.
Além do trabalho esperado, de conferência gramatical, linguística, de coesão e coerência, o revisor por vezes é o responsável pela padronização do texto – dentro do próprio material e de acordo com a padronização da empresa ou do cliente –, pela adequação vocabular, pela edição propriamente dita, também chamada copidesque – quando o texto precisa ser mais trabalhado e algumas partes precisam ser excluídas ou incluídas –, pela revisão técnica, em caso de textos científicos ou com uma temática específica, e pela revisão da tradução – as últimas, em contextos mais específicos.
É de se esperar que, dentro desse amplo contexto, o revisor entenda as especificidades de cada trabalho e a necessidade que cada texto pede: de pesquisa, atualização – do texto e do próprio profissional –, e do tempo necessário para que a revisão seja feita. E é crucial que a cadeia de trabalho na qual ele está inserido também compreenda esses fatores e colabore, dentro da equipe, para que o tempo de revisão esteja previsto para que o trabalho seja realizado.
O trabalho do revisor evolui com o mundo
Assim como nem todo texto é escrito do mesmo jeito, a revisão nunca é feita da mesma forma. Se antigamente ela era realizada em pilhas e pilhas de papel e à caneta (ou lápis), hoje a revisão já aceita a priori todas as especificidades das mídias que podem influenciar no texto, na sua forma ou conteúdo – como posts, tweets e Stories.
As inovações tecnológicas de nosso tempo com certeza são de vital importância para o revisor, que hoje conta com dicionários e manuais on-line, grupos de discussão e para tirar dúvidas e diferentes mídias com as quais trabalhar, mas esse cenário não muda a necessidade de pausa para que o trabalho seja feito – embora tenha deixado o processo mais ágil. Quem faz revisão de textos e é tolhido no seu tempo de leitura e pesquisa, ou tem dificultado seu acesso a condições mais adequadas de trabalho (substituindo-se o texto em Word por conversas de WhatsApp, por exemplo), não conseguirá desenvolver seu trabalho com qualidade. E tais condições não são medidoras de competência ou agilidade, e sim dificultadoras no trato com o texto.
Revisores are friends, not food
O texto não é do revisor, diferentemente de como acontece com o redator, o jornalista ou o tradutor. Por isso, suas interferências têm limites que devem ser definidos junto com editor ou redator, que definirão até onde o texto aceita e precisa de mudanças. De forma alguma o trabalho desses profissionais devem antagonizar. Não há disputa de protagonismo entre quem escreve o texto e quem o revisa. O revisor é um leitor preocupado com o resultado final e adequado que será dado àquele material, e um parceiro importante para que o texto seja entregue da melhor forma.
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Anna Guedes atua há dez anos na revisão e preparação de textos. Formada pela Universidade de Brasília, tem experiência na área de medicina e saúde, ficção, não ficção, publicidade e propaganda, textos acadêmicos e é revisora do Conversa.