Esses dias estava conversando com uma amiga e ela me contou a frustração de ter recebido uma mensagem de felicitações de aniversário via inbox do Instagram, ao invés de ser pelo WhatsApp. Através deste desabafo, fiquei refletindo o quanto a gente deixa que as redes sociais interfiram nos nossos relacionamentos, seja com amigos, família ou até mesmo crushes.
Comecei então a lembrar de outras situações e vieram diversos relatos como: “ah, mas não posta fotos comigo”, “não curte ou comenta as publicações que faço”, “me deu unfollow ou parou de seguir as minhas publicações”. Fiquei me perguntando: o quanto isso realmente é importante para gente? E o quanto isso pode nos fazer mal?
Atualmente vivemos uma pandemia, um momento delicado que fez com que a Internet se tornasse a nossa principal aliada para mantermos os nossos relacionamentos, sejam eles pessoais ou profissionais. Reuniões, festas de aniversários, happy hour, tudo começou a ser virtual, cada um em sua casa, cada um em seu aparelho eletrônico. Ok, foi necessário nos adaptar e desprender das relações pessoais. Mas e antes? Como era?
Lembro-me de uma outra amiga que uma vez questionou o relacionamento em que estava há uns 5 meses. A sua frustração maior era ele não fazer stories com ela, postar no feed, curtir ou comentar as fotos dela. Comecei então a fazer perguntas sobre como era a relação deles na vida “real”: vocês se dão bem? Você sente que é importante no cotidiano dele? Sente que ele gosta de você? A resposta? Sim! E foi quando ela percebeu que estava se importando com coisas que não tinham relevância para que eles continuassem bem e eram preocupações que, inclusive, colocavam barreiras no relacionamento que estavam construindo.
E aí pergunto a vocês: o quanto são relevantes essas preocupações virtuais para as nossas relações reais?
A necessidade de ter uma vida virtual que dá certo para compensar a vida real é tão grande que, muitas vezes, nossos relacionamentos terminam por ali mesmo. Digo isso pois já aconteceu comigo em diversas situações. A discordância sobre assuntos, como política, já fez com que eu removesse pessoas do meu círculo social sem nem ao menos tentar entender o que ela realmente pensava. Até o Big Brother já me fez tomar atitudes assim – mas, neste caso, claro, não era alguém importante para mim e apenas nos seguíamos no Twitter.
O que acontece é que as redes sociais nos deram a oportunidade de sermos mais fortes e confiantes no que queremos falar, afinal, é muito mais fácil dizer algo por trás de uma tela de computador, sem precisar encarar a outra pessoa. Pelas redes sociais você tem tempo de refletir, organizar ideias e conseguir argumentar melhor. Mesmo tendo todo este tempo, na maioria das vezes não conseguimos nos expressar da maneira correta e começam os julgamentos. Quem nunca cancelou outra pessoa por uma fala que não concorda?
Aliás, falando na cultura do cancelamento, esta é uma discussão que veio para ficar. Pauta principal da 21ª edição do reality Big Brother Brasil, o cancelamento é algo que vem sendo discutido em todos os lugares: programas de TV, podcasts, redes sociais e rodas de conversa. Mas o que é o cancelamento? Nada mais do que você parar de consumir conteúdo de certa pessoa por não concordar com sua opinião ou atitudes ou pelo fato dela ter feito algum comentário negativo, em especial sobre racismo, LGBTfobia, machismo, gordofobia e afins.
O mal do cancelamento é impedir que as pessoas aprendam com os próprios erros. Os cancelados não conseguem ter um diálogo com embasamento para perceber onde erraram e, dessa forma, reavaliar seu posicionamento. Até questiono: como podemos cancelar outra pessoa sem nem ao menos saber se ela está realmente errada ou se nós estamos errados? Quem garante que o nosso ponto de vista é o correto? Quem tem o direito de arremessar pedras? Quem é tão perfeito que não corre o risco de um dia ser vidraça? Mas fica mais fácil julgar o outro do que reconhecermos que estamos sendo extremos ou errados, ou ainda fazer um exame de autoconsciência. E vida que segue! Sem diálogo, sem saber quem errou e sem que tenhamos acertos.
Acontece que o cancelamento virtual interfere no pessoal.
Muito do que lemos na Internet por influência de pessoas que admiramos, levamos para a vida pessoal. E aí é onde não estamos acostumados a lidar com o debate pessoal. Afinal, estamos tão habituados com o virtual e a falta de diálogo na maioria das vezes, que não temos argumentos suficientes para defender um conteúdo que levamos para esta roda de conversa. Até porque só temos acesso a um conteúdo restrito, sem muitas opiniões divergentes.
Acho que fui um pouco além do que gostaria de abordar, então repito aqui o principal assunto deste texto e pergunto novamente: como as redes sociais podem impactar na nossa vida “real”?
Deixo este questionamento e exercício para você fazer no seu dia a dia. O que é mais importante para você: a pessoa que te demonstra no dia a dia o quanto ela se importa com você ou ela não curtir a sua publicação? A pessoa estar presente no seu dia a dia ou ela ter te desejado parabéns pelo direct do inbox ao invés do WhatsApp? Um diálogo produtivo no qual as pessoas se ouvem ou o bloqueio imediato por você não concordar com a outra pessoa sem nem ao menos querer entender o porquê ela pensa daquela forma?
Fica aí o meu questionamento, não só para você – mas, também, para mim!
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O que a vida quer da gente é só coragem?
José Henrique é Coordenador de Comunicação e Eventos do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada