Conciliar a maternidade com a carreira, mesmo nos dias de hoje, continua sendo uma tarefa desafiadora para mulheres em todas as áreas profissionais. Uma pesquisa realizada pela revista Crescer, em 2019, ouviu 2.887 mulheres, das quais 94% já relatavam dificuldade para equilibrar essa relação.
Entre as participantes, 64% disseram ter tido a carreira prejudicada. De um lado, precisavam recusar novos projetos profissionais ou promoções para terem tempo para cuidar dos filhos. Do outro, projetos novos ou promoções não apareciam pelo fato de serem mães.
Com a pandemia da Covid-19, essa realidade foi ainda mais afetada, reduzindo o tempo de qualidade das mulheres com seus filhos e abolindo de suas agendas o tempo dedicado para o autocuidado.
A pesquisa Woman in the Workplace 2021, publicada em janeiro de 2022 pela McKinsey e Leanln.Org, também revelou que 50% das mulheres que ocupavam cargos de gerência manifestaram sintomas de burnout persistente. Os dados mostram ainda que, uma em cada três mulheres pensou em largar ou alterar a carreira em razão do estresse.
Assim, além de paralisar a recolocação de mulheres no mercado de trabalho, a situação sanitária também impactou significativamente as suas carreiras, reduzindo a produtividade de muitas delas, que se viram forçadas a abandonar seus empregos ou desistir de suas ambições profissionais.
Excesso de cobranças por resultados, sobrecarga com atividades domésticas, falta de empatia dos empregadores, rede de apoio escassa ou inexistente completam o pacote de situações que têm impactado diretamente a carreira de muitas mães nesse período de pandemia.
Será que é possível equilibrar os dois papéis, investindo nos próprios projetos e carreiras, assumir posições de liderança e manter as relações de qualidade com seus filhos nesse novo cenário?
Talvez esse seja um dos questionamentos mais difíceis de responder quando o assunto é maternidade e carreira, mas o que eu e outras mães que conheço temos feito é tentar encontrar o equilíbrio na gestão de todos os nossos papéis.
Neste sentido, separei algumas dicas, com base na minha experiência e de outras mães para auxiliar outras mulheres a superar o momento de forma menos agressiva, cruel e desgastante.
Acalme o seu coração
Primeiramente, é preciso aprender a respeitar as suas limitações para trazer um pouco mais de leveza à sua trajetória profissional. Também é importante lidar com seus próprios preconceitos e cobranças, sempre procurando dosar o impacto das críticas que você faz à sua performance profissional. Mas como? Reduzindo o sentimento de culpa por termos deixado os bebês em casa para voltar a trabalhar ou de quando passamos do horário de pegá-los na escola por causa de uma reunião de trabalho, por exemplo, é um excelente ponto de partida, especialmente quando a mãe não tem uma rede de apoio com a qual possa contar.
Controle suas emoções diante das dificuldades
Durante a pandemia, não foram raras as situações de falta de empatia dos gestores e organizações presenciadas por mães no exercício das suas carreiras. Foi uma chuva de situações como a manutenção do nível de cobrança quanto à jornada de trabalho, à flexibilidade de agendas de reuniões, aos prazos de entrega das atividades e muitas outras coisas.
Se você percebeu que essa realidade tem impactado os seus resultados ou está refletindo na sua saúde emocional, é hora de procurar ajuda profissional de psicólogos ou psiquiatras. Outro caminho é a realização de atividades que te deem prazer, desabafar, chorar, ressignificar as suas formas de agir e de encontrar válvulas de escape para tentar dosar as suas emoções diante de tantos desafios. Tenha certeza de que no final tudo vai valer a pena.
Procure ferramentas que te ensinem a fazer uma gestão do tempo adequada
Entenda que seu filho merece um tempo de qualidade tanto quanto seu cliente, seu chefe, sua organização. A vontade de crescer profissionalmente deve acompanhar o sonho de viver bem com seus filhos e com sua família.
Saiba dizer não
Aprenda a definir prioridades diárias, impor limites para a realização das atividades em casa e no trabalho, a negociar prazos para execução das tarefas.
Conforme mostrou o Gender-Equality Index (GEI), da Bloomberg, em seu balanço da equidade de gênero em empresas, houve um avanço na mentalidade das corporações, que estão se esforçando para reverter o quadro. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido para a maternidade deixar de ser mal vista no mercado de trabalho.
Na minha opinião, muitas organizações ainda não estão preparadas para promover ambientes inclusivos e acolhedores para mães colaboradoras. Por isso é tão importante falar sobre esse assunto e levantar reflexões para garantir às mulheres o apoio necessário para superar os desafios da maternidade na vida profissional.
Sim, são muitos desafios a serem vencidos para combinar o cuidado dos filhos com o exercício profissional. Nem sempre vai ser fácil seguir essas dicas, mas é hora de fazer as suas escolhas e tentar fazer dar certo, porque somos capazes de transformar essa realidade.
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Fernanda Matos é Assessora de Imprensa do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada