Minha vida é pautada por dois sentimentos majoritários: medo e culpa. E um se alimenta do outro.
O medo vem de não me achar boa, capaz ou capacitada o suficiente — principalmente no campo profissional — , de ser julgada negativamente por isso e de me comparar com os outros.
A culpa vem de achar que nunca fiz/ trabalhei/ estudei o suficiente, e também de saber que essa percepção é falsa.
Acontece que quanto mais estudamos sobre um assunto, mais percebemos que sabemos pouco sobre ele e, por isso, nos sentimos menos confiantes para abordá-lo. Isso é normal! E, até certo ponto, eu diria que saudável, porque fomenta a curiosidade ou a necessidade de descobrir mais sobre aquilo, evitando cair no efeito Dunning-Kruger, que explica a tendência de nos acharmos melhor do que realmente somos. Curiosamente, as pessoas menos qualificadas são as que mais tendem a superestimar suas habilidades e conhecimento.
Nas últimas semanas tenho conhecido pessoas e profissionais incríveis que se mostraram abertos a trocar muita ideia boa. Ao mesmo tempo, a comparação é inevitável, e de vez em sempre me pego no hábito de medir meu progresso com o dos outros.
Sinto não ter autoridade para falar sobre nada ultimamente. É tanta coisa nova, tanta informação legal, tanta gente fazendo que eu me afogo em um mar de desespero. E logo esse desespero evolui para uma insegurança tão crônica e paralisante que gera uma autossabotagem cíclica.
E foi aí que me dei conta: se tem um assunto que eu domino é o da síndrome da impostora. Então por que não falar sobre?
O que é a síndrome do impostor?
Um estudo norte-americano conduzido em 1978 por duas psicólogas, Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, identificou a prevalência de um sentimento de fraude intelectual comum entre mulheres de alto rendimento.
A pesquisa inicial ressaltava como a síndrome do impostor atinge predominantemente mulheres, mas, desde então, novas pesquisas — uma delas, inclusive, conduzida por uma das psicólogas do estudo original — mostram que homens também são afetados.
Trata-se de uma autopercepção deturpada em que a pessoa se enxerga como uma fraude, incapaz de atribuir suas conquistas à sua competência, e sim à sorte e a fatores externos, correndo o risco de ser desmascarada a qualquer momento.
Os sintomas clínicos mais comuns são ansiedade generalizada, falta de autoconfiança, depressão e frustração causada pela inabilidade de atingir os altos padrões de cobrança impostos sobre si mesmo.
Tipos de impostores
A escritora e especialista no assunto, Dra. Valerie Young, identificou cinco categorias de “impostores”:
- O perfeccionista: estabelece metas altíssimas para si mesmo e, caso não as atinja, ou mesmo que consiga 99% delas, sente que fracassou. Para este tipo, o sucesso nunca é satisfatório porque sente que poderia ter feito melhor.
- A supermulher/ o super-homem: por se sentir constantemente uma fraude, tem a necessidade de se esforçar mais do que os outros quando, na verdade, o excesso de trabalho é apenas uma tentativa de esconder as próprias inseguranças sobre si, além de levar ao esgotamento físico, mental e interpessoal. Busca validação de terceiros e no ato de trabalhar — e não no trabalho em si.
- O gênio nato: acredita que precisa conseguir tudo de primeira; caso contrário, se sente uma farsa. Assim como o perfeccionista, estabelece um padrão altíssimo de cobrança, e ainda por cima se julga quando não consegue fazer algo rápido ou com facilidade.
- O solista: pensa que pedir ajuda é sinal de ser uma fraude. Sente que precisa conseguir fazer tudo sozinho.
- O expert: avalia a própria competência baseado no que e quanto sabe ou é capaz de fazer. Acha, portanto, que precisa dominar tudo sobre determinado assunto, acredita nunca saber o suficiente e teme ser exposto por sua inexperiência.
A impostora não quer guerra, mas companhia
A impostora aparece para ressaltar alguma qualidade sobre você mesma que precisa de atenção. Ela quer diálogo, não batalha.
Quando sua impostora gritar, escute, mas não acredite em tudo que ela diz. Tente analisar o que está por trás do pensamento autossabotador. Existem ferramentas, atitudes e formas mais tangíveis de medir suas habilidades que podem ajudar quando esse medo bater:
- Feedback: pergunte para pessoas que te conhecem como elas avaliam você, seu trabalho, seu comportamento, o que quiser. Escute com coração aberto para receber críticas construtivas e use-as como ponto de partida para seu aprimoramento, mas não as tome como verdades absolutas. Validação externa constante é o caminho para a decepção (vai por mim, eu faço isso mais do que deveria).
- Design thinking: a forma como pensamos e encaramos problemas molda a percepção subsequente de como enxergamos o mundo e nós mesmos. Desenvolver um pensamento crítico e curioso é um ponto fundamental para a descoberta de soluções eficientes. Isso vale para produtos e serviços, mas também para nós mesmos. O design thinking é um modelo mental para achar soluções partindo de um problema bem definido. O duplo diamante, por exemplo, é uma estrutura baseada em quatro pilares — descobrir, definir, desenvolver e entregar — que ajuda a explorar melhor um problema para depois agir de maneira mais eficiente.
(Uma dica: o livro Designing Your Life fala justamente sobre aplicar design thinking à sua vida. Eu vou começar a leitura agora e estou bem animada. Já leu? Vamos trocar uma ideia sobre?)
(Outra dica: escute o podcast Chá com a Impostora, da Anna Terra. Foi um abraço em forma de áudio que veio no momento certo de um dia bastante torto. Inclusive, Anna, me nota! Vamos conversar!)
(Última dica, prometo: sigam o perfil da Contente. Além de falarem sobre consumo consciente da Internet, recentemente as meninas lançaram um curso sobre criação de conteúdo que busca quebrar essa ansiedade toda gerada pelo ritmo acelerado das redes sociais e o espírito comparativo que beira o doentio às vezes. Também veio num momento certo de uma fase meio torta. Meninas, me notem também!)
Acolher para crescer 🙂
Acolha a impostora ou o impostor em você. É o que tenho tentado fazer e é muito difícil, mas é possível aos poucos. Demorei mais de uma semana para terminar este texto porque estava com (adivinha?) medo de não escrever nada bom. Mas escrevi!
Você não é a única pessoa passando por isso. Se quiser, me manda uma mensagem no LinkedIn e vamos bater um papo. Vou adorar!
Gabriela Brito é Analista de Comunicação do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada