Exemplo dos pais pode ser determinante para afastar o machismo do ambiente familiar
A tarefa não é fácil! Aliás, talvez seja uma das mais difíceis para as mães de meninos, pois, além do exemplo familiar, também é preciso ensinar os filhos a combater e repudiar os diversos estímulos machistas com os quais os pequenos terão contato ao longo da vida. E isso pode ocorrer tanto em casa como nos churrascos de família, na escola, no parquinho, nas celebrações com os amigos e, acredite, em músicas, filmes e desenhos infantis.
Mas como anular comportamentos machistas e educar os filhos dentro de uma lógica que não perpetue a desigualdade de gênero?
Sem sombra de dúvida, para nós, mães de meninos, essa é uma missão importante, complexa e que necessita de informação, exemplo e muito diálogo para ser bem executada.
Considero-a complexa porque muitas mães, assim como eu, cresceram em ambientes machistas, onde piadas de que ‘os meninos vão beijar e pegar muitas meninas na escola’ eram encaradas como naturais; mulheres servirem os maridos era uma obrigação e tudo bem; e homens irem descansar após o almoço, enquanto as mulheres lavavam e secavam as louças era igualmente uma situação comum e não questionada.
No livro “Para educar crianças feministas”, Chimamanda Ngozi Adichie aborda o tema da igualdade de gêneros mostrando maneiras simples e precisas como oferecer uma formação igualitária às crianças.
Na obra, a escritora expõe diversas sugestões de como criar os filhos através de uma perspectiva feminista. Eu tive contato com o livro a partir da indicação de uma amiga e achei uma leitura muito importante para mães que desejam refletir sobre o assunto e iniciar o processo de preparação dos filhos para combater o machismo tão presente na nossa sociedade.
A publicação lista dicas simples que podem ajudar as mães a identificar o machismo no dia a dia mesmo quando ele está disfarçado em sua cultura. Pois bem, enquanto mulher educada em uma época em que o machismo era ainda mais forte, hoje, mãe de um menino de 3 anos de idade, desejo desconstruir esses valores e educar meu filho no caminho da equidade e de ações mais equivalentes entre homens e mulheres.
Assim, busco oferecer um ambiente familiar diferente para ele em relação ao que fui criada, começando pelo exemplo, esclarecendo questionamentos que já começaram a surgir, como ‘esse brinquedo é de menino ou de menina, mamãe?’. Acredito que, ao oferecer uma educação sem estereótipos em casa, estarei preparando-o para combater os comportamentos machistas que presenciar no ambiente externo.
Para mim, esse é um bom ponto de partida, mas precisamos ter consciência que nossa missão enquanto mães vai muito além do que firmar esses valores para nossos filhos. Temos que mostrar que os diversos privilégios que nossa sociedade concedeu a eles ao longo dos anos precisam ser questionados e combatidos.
Não podemos continuar repassando para nossos filhos a educação machista que tivemos, dizendo, por exemplo, que ‘menino brinca de carrinho e menina, de boneca’ ou que ‘meninos não choram, porque são homens’.
Fico feliz em ver que o machismo já não é mais aceito com naturalidade pelas mulheres e parte da sociedade. Atitudes machistas hoje incomodam, revoltam e mobilizam multidões. Sei que ainda estamos muito longe do ideal, mas se cada um fizer a sua parte tentando educar a nova geração de forma diferente, em breve, teremos ainda mais motivos para comemorar.
A seguir, compartilho algumas dicas que estão no livro de Chimamanda Ngozi Adichie e em outros textos que li sobre o assunto. Espero que possam ajudar outras pessoas nessa tarefa tão importante que é a educação de meninos em um mundo tão machista.
- Exponha seu filho a personagens diversos em livros e filmes e não diferencie atividades e brincadeiras.
- Procure dividir com ele o trabalho doméstico e esclareça que essas tarefas são responsabilidade de toda a família. “O trabalho de cuidar da casa e dos filhos não deveria ter gênero, o que devemos perguntar não é se uma mulher consegue dar conta de tudo, e sim qual é a melhor maneira de apoiar o casal em suas duplas obrigações no emprego e no lar”, orienta Chimamanda.
- Trate seu filho com amor e carinho, independentemente da idade dele. Meninos também gostam de beijo e de aconchego, e por que não incentivá-lo a desenvolver sua sensibilidade e afetividade?
- Dialogue com seu filho e tenha atenção ao que você e sua família falam em casa.
- Procure sempre educar pela equidade, pois é dessa forma que poderemos garantir direitos equivalentes para todos. Busque esclarecer para ele a importância de praticar a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres.
Que tal fazer a sua parte dando exemplo dentro da sua casa, criando um ambiente mais saudável para seu filho, onde o diálogo seja forte e as ações familiares sejam livres de estereótipos?
Saiba mais sobre o livro ‘Para Educar Crianças Feministas’
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Fernanda Matos é jornalista e assessora de imprensa no Conversa Estratégias de Comunicação Integrada